E eis que chegamos hoje à terceira e última parte da trilogia gloriosa do Oeiras no reino do hóquei patinado europeu, com a conquista da terceira Taça das Taças consecutiva, um marco histórico que aconteceu na temporada de 78/79. Ditou o sorteio que nos quartos-de-final da competição europeia houvesse duelo lusitano, isto, os rapazes da “Linha” iam medir forças com o Benfica, equipa que no plano interno viveu uma temporada de glória ao conquistar a dobradinha (campeonato nacional mais a Taça de Portugal). Nomes grandes não faltavam aos encarnados em 78/79, casos do lendário guarda-redes Ramalhete, de Fanã, de Fernando Pereira, ou de José Virgílio, alguns astros do sique que eram orientados por um vulto da tática: Torcato Ferreira. Era um grande Benfica. Mas nem isso assustou o Oeiras, que voltou a mostrar que a Taça das Taças era mesmo a sua praia. A atuar em casa na primeira mão (jogada a 5 de maio de 1979), o Oeiras venceu os benfiquistas por 3-1. Porém, foram os pupilos de Torcato Ferreira que inauguraram o marcador, na sequência de uma tabelinha entre Jorge Vicente e José Virgílio, com este último a bater o guarda-redes Carlos Saraiva. Estavam decorridos 12 minutos. Uma mão cheia de minutos volvidos, José Rosado empatava o encontro, para um minuto depois o seu irmão, Vítor, colocar o marcador em 2-1 com que se atingiu o intervalo. No segundo tempo, Carvalho voltou a mostrar dotes de grande concretizador, tal como havia feito na caminhada de glória da época transata, ao selar o placard em 3-1 a favor do Oeiras. Três semanas depois (no dia 26 de maio) os rapazes da “Linha” faziam a curtíssima viagem até Lisboa para tentar carimbar pelo terceiro ano consecutivo a passagem às meias-finais da Taça das Taças. Ambiente frenético na Luz. Empurrado pelo seu público o Benfica empatou a eliminatória ao vencer por 5-3, sendo que no final do tempo regulamentar o resultado era favorável aos encarnados por 4-2. No prolongamento, um golo para cada lado, pelo que se teve de recorrer ao desempate por grandes penalidades. Aí, a sorte e competência (que também é necessária nestas alturas) esteve do lado do Oeiras e de… Guedes. Depois de nas primeiras grandes penalidades (5 do lado do Benfica e 4 para o Oeiras) a bola não ter entrado na baliza, eis que na última tentativa para a turma da “Linha” Guedes desfeiteou Ramalhete e carimbou a vitória na eliminatória.
Quis o destino que pelo terceiro ano consecutivo o Oeiras defrontasse nas meias-finais da prova um conjunto italiano. Depois de em 76/77 ter tido pela frente o Novara, e de em 77/78 ter encontrado o Follonica, eis que agora a equipa lusa ia medir forças com o Amatori Lodi. A primeira mão do embate aconteceu a 16 de junho, em solo italiano, onde o Oeiras arrancou um promissor empate a 5 bolas, depois de ter estado a vencer a partida ao intervalo por 3-2. Carvalho, foi mais uma vez o goleador de serviço, ao apontar 3 tentos, sendo que os restantes 2 foram da autoria de Salema. Quinze dias mais tarde, os portugueses puxaram dos galões e ao intervalo já venciam por 2-0, com golos de José Rosado e de Salema. Na segunda metade, Fantozzi ainda assustou o público oeirense ao encurtar a desvantagem no marcador, mas Carvalho, com duas sticadas fulminantes (aos 12 e 18 minutos) selou o resultado em 4-1 e mais do que isso garantiu que o pequeno gigante Oeiras iria defender uma vez mais a Taça das Taças de que era detentor. O outro finalista era um velho conhecido dos portugueses nestas andanças: o Voltregà. A equipa espanhola que na temporada anterior havia sido derrotada pelo Oeiras na final desta competição, e que como tal tinha agora uma nova oportunidade de se vingar.
Mas tal não aconteceu, pois na primeira mão, disputada em Portugal, o conjunto da “Linha” esmagou os espanhóis por 10-1 e colocou desde logo uma mão na taça. Pedro Gallen, treinador do Voltregá, atirou-se ao árbitro português Mário Nobre, ao dizer à reportagem do Diário de Lisboa (DL) que «o Oeiras jogou com seis jogadores», acrescentando que o juiz luso provocou de forma constante os seus jogadores, e que tudo fez para dar o título ao conjunto português. Quanto à possibilidade de a sua equipa dar a volta aos acontecimentos, o antigo jogador internacional espanhol era perentório em dizer que «a eliminatória está decidida, a não ser que em Voltregà aconteça algo imprevisto e o jogo seja dirigido por um árbitro espanhol». Sentindo-se prejudicados pela arbitragem os espanhóis usaram e abusaram da agressividade, em alguns lances agrediram mesmo os jogadores do Oeiras, como foi o caso de Ordeig a José Rosado. «Estava a ser um jogo muito difícil, mas as atitudes irrefletidas dos jogadores espanhóis tornaram tudo mais fácil», comentou o treinador do Oeiras, Cristóvão Freire, ele que enquanto jogador havia conquistado a primeira edição da Taça das Taças. Instado a antecipar o jogo da segunda mão, o técnico português diria que «os 9 golos de vantagem chegam e sobram». Contrariamente ao que acontecia em finais europeias, este jogo teve de ser dirigido por um árbitro do mesmo país que um dos finalistas, neste caso o Oeiras, porque o juiz inicialmente escalado, o alemão Orwin Brandt, não compareceu em território luso devido a uma greve na companhia de aviação da Alemanha Ocidental. Quanto ao jogo em si, o DL escrevia que o Oeiras beneficiou da desorientação dos espanhóis para vencer, «proporcionando aos cerca de 3000 espectadores uma boa exibição e um excelente resultado que praticamente garante a permanência do título em Portugal». Salema e Carvalho, autores de 4 golos cada um, e os irmãos Rosado, fizeram o gosto ao stick para o combinado da “Linha”.
A comitiva portuguesa viajou para Espanha de avião para o encontro da segunda mão, que tal como no primeiro jogo teve arbitragem de um árbitro do mesmo país que um dos finalistas. Isto é, o espanhol Ramiro Iglésias substituiu à última da hora o italiano De Santi. Deste modo, o Voltregà não se poderia queixar de falta de ajuda para tentar a remontada. Porém, o juiz espanhol não teve pulso para segurar uma partida pautada pela extrema violência dos jogadores espanhóis. Tal como na primeira mão, o Voltregà praticou um jogo violento, com agressões constantes, o que levou o DL a titular este encontro de uma batalha campal. Mas na prática, o jogo violento dos espanhóis não foi suficiente para anular a desvantagem de 9 golos trazidas de Oeiras, sendo que a turma portuguesa, «por indicação do seu treinador, não respondeu ao tipo de jogo violento, praticando um estilo de reter o mais possível o esférico. No final, os jogadores portugueses foram assobiados e agredidos». Pois é, cenas lamentáveis aconteceram após o apito final de um duelo que terminou com a vitória insuficiente do Voltregà por 6-3, e que coroava o Oeiras como TRI-CAMPEÃO DA TAÇA DAS TAÇAS. A comitiva lusa (que além dos jogadores Carlos Saraiva, Vítor Rosado, José Rosado, Carvalho, Salema, José Pereira, Serra, José Manuel, e Guedes, integrou ainda o treinador Cristóvão Freire, o mecânico José Santos, o médico Manuel Pereira, o massagista Jorge Santos, e os dirigentes Vidigal Fonseca, José Rocha, e Rogério Garrido), foi recebida em euforia no Aeroporto da Portela, onde «centenas de adeptos do clube, vestidos com camisolas com as cores do Oeiras, empunhando cartazes e bandeiras, acorreram ao aeroporto para vitoriar a equipa. (…) Depois, a equipa da Costa do Sol incorporou-se num cortejo de dezenas de automóveis que seguiram ruidosamente para Oeiras onde a festa continuou durante a madrugada», assim descrevia o DL o desfecho final deste verdeiro conto de fadas da Associação Desportiva de Oeiras.
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