quinta-feira, 12 de junho de 2025

A trilogia gloriosa do pequeno gigante Oeiras na Taça das Taças (parte III)

 


E eis que chegamos hoje à terceira e última parte da trilogia gloriosa do Oeiras no reino do hóquei patinado europeu, com a conquista da terceira Taça das Taças consecutiva, um marco histórico que aconteceu na temporada de 78/79. Ditou o sorteio que nos quartos-de-final da competição europeia houvesse duelo lusitano, isto, os rapazes da “Linha” iam medir forças com o Benfica, equipa que no plano interno viveu uma temporada de glória ao conquistar a dobradinha (campeonato nacional mais a Taça de Portugal). Nomes grandes não faltavam aos encarnados em 78/79, casos do lendário guarda-redes Ramalhete, de Fanã, de Fernando Pereira, ou de José Virgílio, alguns astros do sique que eram orientados por um vulto da tática: Torcato Ferreira. Era um grande Benfica. Mas nem isso assustou o Oeiras, que voltou a mostrar que a Taça das Taças era mesmo a sua praia. A atuar em casa na primeira mão (jogada a 5 de maio de 1979), o Oeiras venceu os benfiquistas por 3-1. Porém, foram os pupilos de Torcato Ferreira que inauguraram o marcador, na sequência de uma tabelinha entre Jorge Vicente e José Virgílio, com este último a bater o guarda-redes Carlos Saraiva. Estavam decorridos 12 minutos. Uma mão cheia de minutos volvidos, José Rosado empatava o encontro, para um minuto depois o seu irmão, Vítor, colocar o marcador em 2-1 com que se atingiu o intervalo. No segundo tempo, Carvalho voltou a mostrar dotes de grande concretizador, tal como havia feito na caminhada de glória da época transata, ao selar o placard em 3-1 a favor do Oeiras. Três semanas depois (no dia 26 de maio) os rapazes da “Linha” faziam a curtíssima viagem até Lisboa para tentar carimbar pelo terceiro ano consecutivo a passagem às meias-finais da Taça das Taças. Ambiente frenético na Luz. Empurrado pelo seu público o Benfica empatou a eliminatória ao vencer por 5-3, sendo que no final do tempo regulamentar o resultado era favorável aos encarnados por 4-2. No prolongamento, um golo para cada lado, pelo que se teve de recorrer ao desempate por grandes penalidades. Aí, a sorte e competência (que também é necessária nestas alturas) esteve do lado do Oeiras e de… Guedes. Depois de nas primeiras grandes penalidades (5 do lado do Benfica e 4 para o Oeiras) a bola não ter entrado na baliza, eis que na última tentativa para a turma da “Linha” Guedes desfeiteou Ramalhete e carimbou a vitória na eliminatória.


Quis o destino que pelo terceiro ano consecutivo o Oeiras defrontasse nas meias-finais da prova um conjunto italiano. Depois de em 76/77 ter tido pela frente o Novara, e de em 77/78 ter encontrado o Follonica, eis que agora a equipa lusa ia medir forças com o Amatori Lodi. A primeira mão do embate aconteceu a 16 de junho, em solo italiano, onde o Oeiras arrancou um promissor empate a 5 bolas, depois de ter estado a vencer a partida ao intervalo por 3-2. Carvalho, foi mais uma vez o goleador de serviço, ao apontar 3 tentos, sendo que os restantes 2 foram da autoria de Salema. Quinze dias mais tarde, os portugueses puxaram dos galões e ao intervalo já venciam por 2-0, com golos de José Rosado e de Salema. Na segunda metade, Fantozzi ainda assustou o público oeirense ao encurtar a desvantagem no marcador, mas Carvalho, com duas sticadas fulminantes (aos 12 e 18 minutos) selou o resultado em 4-1 e mais do que isso garantiu que o pequeno gigante Oeiras iria defender uma vez mais a Taça das Taças de que era detentor. O outro finalista era um velho conhecido dos portugueses nestas andanças: o Voltregà. A equipa espanhola que na temporada anterior havia sido derrotada pelo Oeiras na final desta competição, e que como tal tinha agora uma nova oportunidade de se vingar. 


Mas tal não aconteceu, pois na primeira mão, disputada em Portugal, o conjunto da “Linha” esmagou os espanhóis por 10-1 e colocou desde logo uma mão na taça. Pedro Gallen, treinador do Voltregá, atirou-se ao árbitro português Mário Nobre, ao dizer à reportagem do Diário de Lisboa (DL) que «o Oeiras jogou com seis jogadores», acrescentando que o juiz luso provocou de forma constante os seus jogadores, e que tudo fez para dar o título ao conjunto português. Quanto à possibilidade de a sua equipa dar a volta aos acontecimentos, o antigo jogador internacional espanhol era perentório em dizer que «a eliminatória está decidida, a não ser que em Voltregà aconteça algo imprevisto e o jogo seja dirigido por um árbitro espanhol». Sentindo-se prejudicados pela arbitragem os espanhóis usaram e abusaram da agressividade, em alguns lances agrediram mesmo os jogadores do Oeiras, como foi o caso de Ordeig a José Rosado. «Estava a ser um jogo muito difícil, mas as atitudes irrefletidas dos jogadores espanhóis tornaram tudo mais fácil», comentou o treinador do Oeiras, Cristóvão Freire, ele que enquanto jogador havia conquistado a primeira edição da Taça das Taças. Instado a antecipar o jogo da segunda mão, o técnico português diria que «os 9 golos de vantagem chegam e sobram». Contrariamente ao que acontecia em finais europeias, este jogo teve de ser dirigido por um árbitro do mesmo país que um dos finalistas, neste caso o Oeiras, porque o juiz inicialmente escalado, o alemão Orwin Brandt, não compareceu em território luso devido a uma greve na companhia de aviação da Alemanha Ocidental. Quanto ao jogo em si, o DL escrevia que o Oeiras beneficiou da desorientação dos espanhóis para vencer, «proporcionando aos cerca de 3000 espectadores uma boa exibição e um excelente resultado que praticamente garante a permanência do título em Portugal». Salema e Carvalho, autores de 4 golos cada um, e os irmãos Rosado, fizeram o gosto ao stick para o combinado da “Linha”. 


A comitiva portuguesa viajou para Espanha de avião para o encontro da segunda mão, que tal como no primeiro jogo teve arbitragem de um árbitro do mesmo país que um dos finalistas. Isto é, o espanhol Ramiro Iglésias substituiu à última da hora o italiano De Santi. Deste modo, o Voltregà não se poderia queixar de falta de ajuda para tentar a remontada. Porém, o juiz espanhol não teve pulso para segurar uma partida pautada pela extrema violência dos jogadores espanhóis. Tal como na primeira mão, o Voltregà praticou um jogo violento, com agressões constantes, o que levou o DL a titular este encontro de uma batalha campal. Mas na prática, o jogo violento dos espanhóis não foi suficiente para anular a desvantagem de 9 golos trazidas de Oeiras, sendo que a turma portuguesa, «por indicação do seu treinador, não respondeu ao tipo de jogo violento, praticando um estilo de reter o mais possível o esférico. No final, os jogadores portugueses foram assobiados e agredidos». Pois é, cenas lamentáveis aconteceram após o apito final de um duelo que terminou com a vitória insuficiente do Voltregà por 6-3, e que coroava o Oeiras como TRI-CAMPEÃO DA TAÇA DAS TAÇAS. A comitiva lusa (que além dos jogadores Carlos Saraiva, Vítor Rosado, José Rosado, Carvalho, Salema, José Pereira, Serra, José Manuel, e Guedes, integrou ainda o treinador Cristóvão Freire, o mecânico José Santos, o médico Manuel Pereira, o massagista Jorge Santos, e os dirigentes Vidigal Fonseca, José Rocha, e Rogério Garrido), foi recebida em euforia no Aeroporto da Portela, onde «centenas de adeptos do clube, vestidos com camisolas com as cores do Oeiras, empunhando cartazes e bandeiras, acorreram ao aeroporto para vitoriar a equipa. (…) Depois, a equipa da Costa do Sol incorporou-se num cortejo de dezenas de automóveis que seguiram ruidosamente para Oeiras onde a festa continuou durante a madrugada», assim descrevia o DL o desfecho final deste verdeiro conto de fadas da Associação Desportiva de Oeiras.  

quarta-feira, 11 de junho de 2025

A trilogia gloriosa do pequeno gigante Oeiras na Taça das Taças (parte II)

 


Na condição de campeão da 1.ª edição da Taça das Taças, o Oeiras garantiu a presença na temporada de 77/78 da então segunda competição de clubes do hóquei patinado europeu. Portugal, aliás, teve forte presença nesta edição da prova, já que além dos campeões em título também o Carvalhos assinalava a sua estreia internacional. Para defender o cetro, o Oeiras manteve o núcleo duro da época anterior, e foi sem grandes dificuldades que começou por afastar os frágeis belgas do Rolta Louvain nos quartos-de-final. A primeira mão da eliminatória teve lugar em solo belga, onde Carvalho vestiu a pele de herói ao apontar os quatro golos com que a turma portuguesa bateu no início do mês de maio de 1978 o conjunto local por 4-2. A segunda mão, realizada no rinque da Salesiana foi um festival de golos a favor dos portugueses, tendo, mais uma vez, Carvalho estado em grande destaque, já que do seu stique saíram quatro dos 12 golos apontados pelo conjunto lusitano. Contas feitas, o Oeiras passava às meias-finais com um agregado de 16-5. E tal como na temporada de estreia da Taça das Taças, quis o destino que o conjunto sulista defrontasse no acesso à final uma equipa italiana, desta feita o Follonica. A primeira mão, realizada em Itália na primeira metade de junho, não correu de feição aos campeões em título, tendo estes perdido por 3-1. Exigia-se, pois, um super Oeiras na segunda mão, ocorrida no dia de S. João (24 de junho). E assim foi. Naquela noite, o conjunto da “Linha” não esteve com meias medidas e despachou os transalpinos por expressivos 12-1, salvando não só a “Honra do Convento” do hóquei luso (já que Carvalhos e Valongo haviam caído, respetivamente, na Taça das Taças e na Taça dos Campeões Europeus), mas acima de tudo, assegurando nova presença numa final europeia. Mas tal como na época de estreia, o Oeiras teve de suar a camisola para ser mais feliz que o seu adversário, que por sua vez exibiram em Portugal um hóquei muito violento, como dava conta a reportagem do Diário de Lisboa (DL). Salvadoni agrediu de forma violenta o oeirense Vítor Rosado, tendo o jogador luso saído do rinque amparado pelos seus colegas de equipa. «O Follonica deixou o pior cartaz possível. Para combaterem num rinque de boxe talvez estejam bem adestrados, mas a jogarem hóquei patinado estes italianos são do mais fraquinho que já desembarcou em Portugal», assim analisava o DL. E deste modo, o Oeiras, a praticar um hóquei muito superior, respondeu à violência transalpina com muitos golos, tendo Carvalho assumido a dianteira na hora de acertar nas redes do guardião Anedda ao apontar cinco tentos. 


E no dia 1 de julho de 1978 o Oeiras recebia os espanhóis do Voltregà, na primeira mão da final da Taça das Taças. A turma lusa conquistou então uma vitória magra (3-2) muito por culpa própria, já que após um estupendo arranque, traduzido numa vantagem de três golos, os portugueses abrandaram o ritmo de jogo, postura que os espanhóis agradeceram para encurtar a desvantagem e adiar a decisão da final para a segunda mão. «Um afrouxamento de pressão, fruto (talvez) de má conceção tática, privou a Associação Desportiva de Oeiras de viajar até Espanha com uma confortável vantagem para a decisão na Taça das Taças. (…) Depois de ter atingido o 3-0, o “cinco” oeirense deixou o parceiro recompor-se e lograr dois tentos», escrevia o DL por intermédio do histórico jornalista Fernando José Neves de Sousa, acrescentando mais adiante que as substituições operadas em nada beneficiaram a capacidade da equipa lusa, que no primeiro tempo fez da velocidade a arma para derrubar a muralha espanhola, que por sua vez, na segunda metade, aproveitou então a extrema suavidade dos portugueses. Salema, Carvalho e José Rosado foram os autores dos golos dos rapazes da “Linha” neste encontro. 


Sensivelmente quinze dias mais tarde, no dia 15 de julho, uma exibição de luxo permitiu ao Oeiras alcançar uma «proeza verdadeiramente notável», segundo o DL, que assim descrevia o empate a três golos entre o conjunto luso e o seu congénere espanhol que desta forma assegurava a manutenção da Taça das Taças nas vitrinas do emblema da “Linha”. «Triunfando em Oeiras na primeira mão por diferença tangencial, os portugueses (de cabeça fria e esquema tático muito bem ordenado por Ernesto Honório) lograram um êxito que merece os mais sinceros aplausos e culminou uma jornada desportiva sem a mais leve mácula», escreveu o DL. Carvalho, com dois golos na conta pessoal; e José Rosado foram os autores dos tentos portugueses.

(continua)

sexta-feira, 6 de junho de 2025

A trilogia gloriosa do pequeno gigante Oeiras na Taça das Taças (parte I)




1977 é um ano marcante para o hóquei patinado português ao nível de clubes. Nesse ano, a nação lusa sticava com êxito nas (então) duas únicas competições europeias de clubes, a Taça dos Clubes CampeõesEuropeus (TCCE) e a Taça das Taças. Por outras palavras, trazia pela primeira vez os dois citados títulos para Portugal. O Sporting de Livramento e companhia erguia a TCCE, ao passo que a segunda competição era arrecadada por um surpreendente Oeiras que haveria de fazer história nesta hoje extinta prova europeia. E é sobre a epopeia da Associação Desportiva de Oeiras que nos vamos debruçar na primeira parte desta viagem ao passado, uma epopeia que não se ficou somente pela surpreendente conquista de 76/77, mas que iria ter continuidade nas duas temporadas seguintes, e que fazem que este emblema dos arredores de Lisboa seja, quiçá, a grande referência da desaparecida Taça dasTaças. A par do Sporting e dos italianos do Roller Monza, o Oeiras é o emblema mais titulado desta competição, com três títulos, mas os oeirenses fizeram-no em três ocasiões consecutivas, um feito nunca alcançado por outro emblema luso nem nesta nem noutra competição europeia. Como já referimos, este conto de fadas teve início na temporada de 76//77, na primeira edição da Taça das Taças, sendo que o então modesto Oeiras ali chegava fruto de ter sido finalista vencido da edição de 75/76 da Taça de Portugal, onde caiu aos pés do Sporting, por 7-1. Mesmo assim, e porque o então poderoso leão de Alvalade também se tinha sagrado campeão nacional e como tal arrecadado o bilhete para disputar a TCEE, a vaga na segunda competição europeia foi atribuída ao Oeiras que pela primeira vez perfilava na alta roda do hóquei em patins internacional.

Sorte dupla em clima de pavor

O início da caminhada de glória não foi difícil, já que no conjunto das duas mãos da 1.ª eliminatória o combinado português venceu por 24-8. Nas meias-finais ditou a sorte que o Hockey de Novara seria o adversário seguinte. Na 1.ª mão, disputada em solo luso, o Oeiras venceu por margem curta (5-4), esperando, por isso, um jogo de sofrimento em Itália na 2.ª mão. E assim foi. Diante de um ambiente difícil, com os adeptos italianos com excessiva animosidade para com os portugueses, o Oeiras sofreu a bom sofrer, em contraposto com o Novara que no final do tempo regulamentar equilibrava a balança da eliminatória com um resultado favorável de 4-3. Precisou-se, pois, de um prolongamento, onde o nó não foi desatado, pelo que o acesso à final teria de ser decidido nas grandes penalidades. Também no tiro ao alvo o empate (3-3), persistiu, pelo que o árbitro suíço Armatti não teve outra alternativa de recorrer ao sistema de desempate por… moeda ao ar! E aqui a sorte esteve do lado dos portugueses, embora com muita polémica à mistura, pois os italianos alegariam que a moeda após ter sido lançada terá caído na biqueira do sapato do árbitro. Este, perante o coro de furiosos protestos quer dos jogadores, quer dos adeptos do Novara, repetiu o lançamento da moeda ao ar, e novamente a sorte bafejou o Oeiras que assim seguia para a final. Os italianos não se conformaram com o desfecho e nem o jornalista da RDP enviado ao jogo, José Barroso, escapou à fúria, sendo agredido por adeptos locais. A própria equipa do Oeiras saiu do rinque debaixo de uma chuva de latas de refrigerantes e cuspidelas! Lamentável. 


«Hóquei português é o melhor da Europa»

E no dia 4 de junho, o pequeno Oeiras entrava na pista molhada (ao ar livre) dos espanhóis do Arenys de Munt para disputar a 1.ª mão da final da Taça das Taças. Num rinque de pequenas dimensões os portugueses foram corajosos, até em demasiada. De acordo com o DL, o Oeiras decidiu jogar de igual para igual com a equipa da região da Catalunha, acabando por pagar essa ousadia com uma derrota por 4-2. A equipa lusa sofreu dois golos no primeiro tempo. No reatamento, os portugueses correram atrás do prejuízo, tiveram diversas ocasiões para passar para a frente do marcador, mas o infortúnio bateu-lhes à porta com a lesão de Salema, o «mais lúcido e frio dos seus homens (de ataque)», segundo a crónica do Diário de Lisboa (DL). Ainda assim, o Oeiras teve forças para chegar ao empate, através de Vítor Rosado e de Carvalho. Porém, um azar nunca vem só, e o 3-2 para o Arenys de Munt chegaria num lance irregular, já que Viade, com o patim, fez golo perante a vista grossa do árbitro. Já perto do final, o mesmo juiz aponta uma grande penalidade duvidosa a favor dos catalães, a qual não seria desperdiçada por Freixas. O resultado final não espelhava o que se havia passado no rinque encharcado (da chuva) de Arenys de Munt, mas acima de tudo mostrava que o Oeiras podia dar a volta por cima cerca de duas semanas mais tarde diante dos seus adeptos. E assim seria. 


O dia 18 de junho de 1977 é histórico para o hóquei patinado lusitano. Nesse dia, em Espanha, o Sporting arrecadava a primeira TCCE da sua história… e da história da modalidade em termos lusos. A festa seria estendida nesse mesmo dia a Lisboa, onde num Pavilhão dos Desportos repleto, o Oeiras deu uma nova alegria ao povo português. Foi preciso sofrer para colocar as mãos na taça, como escreveu o DL: «O Oeiras teve de sofrer até à última gota, destilando doses de suor e entusiasmo para conseguir conquistar o troféu. Mas deu esse pulo para a grande fama». A precisar de anular uma desvantagem de dois golos trazida de Espanha, o Oeiras foi para o intervalo do encontro da 2.ª mão empatado a uma bola, com Salema (recuperado da lesão da 1.ª mão) a adiantar os portugueses e Freixas a restabelecer o empate para os catalães. Na segunda metade, os portugueses superiorizaram-se, e muito devido à veia goleadora de Carvalho, que com três golos colocava os lusos na frente do marcador e da final. Porém, Rodon estragou a festa e reduziu para 4-2, obrigando a um prolongamento onde nada de mais aconteceu. Mais uma vez, o Oeiras foi obrigado a sofrer de ansiedade fruto de mais uma sessão de grandes penalidades. Diamantino converteu com êxito o primeiro penalti, Rodri empatou, Cristóvão fez 2-1 para de seguida Viade permitir a Carlos Alves a defesa. A multidão entrou em delírio. A sessão de tiro ao alvo continuou. Rosado fez 3-1, Edo o 3-2, e Carvalho atirou… à trave. Os portugueses que lotaram o Pavilhão dos Desportos de Lisboa sustiveram por segundos a respiração. Ficaram apreensivos. Rodon tinha no seu stick a hipótese de voltar a empatar a série de grandes penalidades, mas… Carlos Alves foi herói e defendeu o remate. A taça era do Oeiras. Seguiu-se uma festa rija, não só pela vila de Oeiras como por toda a cidade de Lisboa, que aguardava igualmente ansiosa pela chegada dos campeões europeus, o Sporting. «Oeiras e leões de braço dado por Lisboa fora, receção no estádio dos verde-e-brancos, discursos, abraços, euforia a muitos níveis», relatou então o DL numa reportagem publicada na edição de 20 de junho de 1977 cujo título expressou e bem este dia de glória da modalidade: «Hóquei português é o melhor da Europa». Mas voltando à pequena grande Associação Desportiva de Oeiras para recordar os heróis do primeiro de três títulos continentais que assinalam ainda hoje o ponto mais alto da sua história: Carlos Alves, Vítor Rosado, José Rosado, Salema, Carvalho, Cristóvão, Ricardo, Camacho, Diamantino, José Pereira. Treinador: José Lisboa. 


1976/77 foi mesmo uma época inesquecível para o Oeiras, que pelo segundo ano consecutivo chegaria à final a Taça de Portugal, sucumbindo, tal como na temporada transata, aos pés do Sporting. No campeonato nacional da 1.ª divisão, o Oeiras alcançou a sua melhor classificação de sempre na prova, um 2.º lugar, posição que iria repetir na época seguinte, e que confirmavam o pequeno emblema não só como o segundo melhor clube nacional, como internacional daquela época.  

(continua)