Não são muitos os livros que guardam a história desta bela modalidade que é o hóquei em patins. E ainda menos aqueles que guardam a história de um clube. Mas a Associação Desportiva de Valongo não é um clube vulgar. É um emblema que é vivido de forma apaixonada e intensa pelos seus adeptos, de tal modo que o berço que lhe dá o nome, Valongo, está entrelaçado com a do próprio clube. E dessa forma faz todo o sentido que este livro, intitulado “O Hóquei em Valongo – Resumo Histórico 1953 – 1980”, tenha sido escrito. E é apresentação desta obra, da autoria de uma lenda do clube, João Castro Neves, que hoje aqui recordamos à boleia da reportagem por mim realizada a título profissional e que nas próximas linhas é publicada neste museu virtual.
“É por demais sabido e reconhecido que o hóquei em patins é muito mais do que uma mera modalidade para o povo de Valongo. É uma paixão e para muitos um modo de vida. Esse sentimento, digamos, está desde o passado 15 de dezembro retratado no livro “O Hóquei em Valongo – Resumo Histórico 1953 – 1980”, da autoria de João Castro Neves, e que foi apresentado no auditório António Macedo, na sede do nosso concelho.
Um auditório repleto de entusiastas não só
do hóquei em patins, mas acima da Associação Desportiva de Valongo, que mais
que um clube é uma paixão para todos os valonguenses. E a história deste livro retrata
no seu grosso a vida do popular Valongo no período compreendido entre 1953 e
1980, precisamente os primeiros 27 anos de atividade desta coletividade
desportiva. A apresentação deste livro teve casa cheia, com a presença de
dezenas de figuras (jogadores, dirigentes, ou associados) do passado e do
presente do Valongo. De facto, olhando para a repleta plateia percebeu-se
nitidamente o porquê do hóquei em patins e da Associação Desportiva de Valongo
serem um motivo de orgulho e ao mesmo tempo de amor para as gentes desta terra.
Para além do autor da obra e do presidente
da Câmara Municipal de Valongo (CMV), José Manuel Ribeiro, a mesa de honra desta
sessão de apresentação contou com a presença de uma outra figura da história do
hóquei em patins do Valongo, João Carlos Paupério, o seu nome. Foram suas as
primeiras palavras da noite, ele que foi como que o braço direito de João
Castro Neves na feitura deste livro, ou não fosse João Carlos Paupério uma
fonte viva da história do clube.
Na sua alocução inicial deu nota de que
este livro expressa o amor que há pela terra (Valongo) e pela Associação
Desportiva de Valongo. «Povo que não honra o passado não aproveita o presente e
jamais terá futuro. É assim a Associação Desportiva de Valongo: orgulho no
passado, a viver um grande presente, e a preparar desde já com as camadas
jovens o seu futuro», disse João Carlos Paupério, que mais adiante daria nota
de que este livro é «um sonho tornado realidade», um sonho partilhado por João
Castro Neves e pelo presidente da CMV em editar um livro que «perpetuasse a
memória daqueles que inicialmente começaram este grande clube. Poderá não ser
um clube grande, mas é um grande clube», sublinhou.
João Carlos Paupério, como já foi dito
antes, prestou auxílio ao autor do livro ao longo da execução do mesmo.
Sobretudo ao nível da investigação, no apuramento de factos, uma tarefa que foi
difícil nas suas palavras. Sobretudo até 1980, porque daí até aos dias de hoje
é mais fácil fazer a pesquisa da história do Valongo, já que basta um clique no
motor de busca Google e os factos mais recentes da vida do clube estão à vista
de todos. Mas de 1980 para trás não foi fácil, porque, e como explicaria, os
testemunhos dos jogadores mais antigos divergiam, inclusive, sobre o mesmo jogo
que tivessem disputado juntos. Por outras palavras, havia muitas versões sobre
um mesmo facto. E João Castro Neves, até pela sua profissão de jurista, «é um
homem para quem não basta afirmar, pois quando afirma tem que provar que é
mesmo verdade», disse Paupério no sentido de referir que o autor foi fiel às
palavras escritas sobre o ponto de vista da veracidade dos factos. «Ele
preocupou-se em escrever aquilo que se conseguiu confirmar pelos jornais
antigos, o que não era fácil, porque ao contrário dos jornais de hoje, nos
antigos (jornais) onde houvesse um buraco metia-se uma notícia. Então, havia
notícias de hóquei na página 3, depois na página 5, continuava na página 7, e
depois chegávamos à página 7 e não era aí mas na 8, ou seja, a informação
estava dispersa, ao contrário de hoje em que está organizada por
secções/páginas. Andávamos de folha em folha para conseguir alguma notícia. Além
disto, deparamo-nos com livros perdidos, atas desaparecidas, e pelo meio uma
pandemia. Arquivos distritais e nacionais encerrados, e toda a informação
disponível estava pouco mais que inacessível. Não foi fácil, mas se fosse fácil
de certeza que não seria uma tarefa para ele, que é um ideólogo, o selecionador
de conteúdos, o cozinheiro desta bela iguaria. Garanto-vos que foram horas e
horas de muito sacrifício, de muito trabalho, mas saí desta experiência com a
alma cheia. Por isso, se alguma coisa foi omitida neste livro não foi por
esquecimento, ou foi porque não constava dos anais da história, ou porque não
se conseguiu comprovar que efetivamente se passou assim», frisou no sentido de
explicar a "aventura" que foi materializar este livro.
«Falou-se de todos e de tudo? Provavelmente
não. Alguns faltarão, não por incompetência de quem escreveu o livro mas pela
oração de quem não quis, de quem não pôde ou simplesmente de quem não conseguiu
ajudar. No entanto, este livro honra a todos que de uma forma ou de outra
fizeram parte desta história», disse João Carlos Paupério, que de seguida
passou a apresentar, de forma biográfica, João Castro Neves.
João Castro Neves, um valonguense do Mundo
Nasceu em Valongo, em 1938, mas passou grande parte da sua vida fora da sua terra natal. Muito novo dali partiu com destino a Lisboa onde fez o seu percurso académico na área do Direito. Em Paço de Arcos, outra terra com fortes ligações ao hóquei em patins, serviu o país como oficial da Força Aérea. Foi advogado e exerceu consultoria jurídica em várias câmaras municipais, como por exemplo Évora, ou Vila Franca de Xira. Pelo caminho deste seu percurso de jurista foi professor catedrático e foi ainda deputado da Assembleia Municipal de Valongo, da sua terra natal, que tanto ama, como foi possível perceber. «É um homem simples mas rigoroso, irredutível mas amável. As suas memórias ainda frescas, na busca permanente pela informação fidedigna e o seu coração ligado à terra que o viu nascer, fizeram nascer este livro que é uma preciosidade e que de certeza irá fazer as delícias de quem gosta, vive e sente o hóquei em patins nacional e em particular o hóquei de Valongo», rematou João Carlos Paupério.
De seguida usou da palavra a figura principal
desta noite, João Castro Neves, ou o João Loureiro, como era, e é, conhecido nos
meandros do hóquei em Valongo. Foi um dos fundadores da Associação Desportiva
de Valongo e foi seu jogador de 1956 a 1959. Na sua longa alocução desfiaram-se memórias
destes primeiros 27 anos de vida do clube. Nomes, factos, datas, conquistas,
etc. Tudo isto, e muito, mas muito mais, está plasmado ao longo das 687 páginas
de um livro que está dividido em cinco capítulos. Os primeiro e segundo
capítulos abordam, respetivamente, a história do hóquei em patins a nível
mundial e a nível nacional. São sensivelmente 50 páginas. Depois, bem, entra-se
na história da Associação Desportiva de Valongo, numa viagem entusiasmante pela
vida do clube. O capítulo 3 aborda o aparecimento do hóquei em patins em
Valongo, enquanto que no capítulo 4 temos as biografias de aproximadamente meia
centena de figuras (jogadores, dirigentes, etc.) que marcaram a história do
emblema da sede do concelho. Por fim, no capítulo 5 estão os resumos dos jogos do
Valongo desde 1956 até 1980. João Castro Neves daria nota de que este não era o
plano inicial que tinha traçado para o livro. Tinha pensado dividi-lo em dois
pilares, um focado nos jogos e outro nas biografias das pessoas que fizeram a
história do clube. Porém, as tais dificuldades atrás descritas por João Carlos
Paupério, como as faltas de relatos dos jornais da época, ou das histórias por
vezes mal contadas (por esses mesmos jornais) sobre os jogos, aliada à, por
vezes, ausência de atas do clube, fazem com que as cerca de 200 biografias que
tinha previsto elaborar ficassem reduzidas a apenas 46, e que todos, mas todos,
os jogos desenrolados pelo clube ao longo destes primeiros 27 anos não estejam
recordados nestas páginas.
Nesta alocução onde abordou o livro sob o
ponto de vista da sua construção, Castro Neves aguçou o apetite dos futuros
leitores ali presentes com alguns saudosos factos da história do clube. A
título de exemplo, as histórias em volta dos quatro rinques que o Valongo
conheceu até aos dias de hoje. O primeiro deles situado no terraço de Mamede
Figueira, à época um dos donos da Fábrica Paupério; o segundo na Separadora,
que era uma unidade fabril localizada em Campo; o terceiro na Praça (Machado
dos Santos); e o quarto no atual Pavilhão Municipal de Valongo. Para Castro
Neves, o terceiro foi talvez o mais excitante de todos, recordando um ou outro
episódio desportivo que ali se passou e eternizou, como por exemplo um decisivo
jogo entre Valongo e Boavista, corria o ano de 1961, em que a equipa da casa
tinha obrigatoriamente de vencer para subir à 1.ª Divisão Nacional. A poucos
minutos do fim os valonguenses perdiam por 1-5, mas acabariam por vencer por
7-6 e a Praça Machado dos Santos entrou em absoluto delírio. «Histórias
encantadoras e deslumbrantes» de uma praça que tinha alma, bairrismo e calor
humano, e onde surgiu aquele bichinho de boa índole que infetou todos com esta espécie
de encantamento pelo hóquei em patins» conforme recordou o autor que falou de
forma apaixonada e emocionado não só pela sua terra como, e sobretudo, pelo
hóquei em patins e pelo seu Valongo.
Hóquei em patins é o maior embaixador de Valongo a nível internacional
Por fim, usaria da palavra José Manuel Ribeiro, que agradeceu ao autor ter aceite o desafio de escrever este livro, agradecimento estendido a todos os que contribuíram para esta obra. «Foi difícil fazer com que João Castro Neves aceitasse este meu desafio de escrever este livro, um livro que é mais uma conquista, um legado que fica escrito. As palavras das pessoas desaparecem rápido, mas um livro fica, ninguém o pode apagar, é um registo que fica para sempre», salientou o presidente da autarquia, que mais adiante referiu que «o hóquei em patins é sem dúvida um dos maiores embaixadores do nome e da alma desta comunidade e uma marca muito forte a nível internacional, mas esta história tem também a ver com a Cultura. Só temos futuro, se tivermos humanismo», disse, não sem antes lançar, ainda que forma indireta, a Castro Neves o desafio de escrever um segundo livro sobre a história da Associação Desportiva de Valongo, desde 1980 até aos nossos dias. A ver vamos se este novo desafio será aceite por um homem que vive e respira Valongo como poucos”.
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