sexta-feira, 14 de julho de 2023

Lendas (2)... Carlos Realista (Portugal)

Ele foi um dos hoquistas marcantes de uma das mais talentosas e vitoriosas gerações da modalidade em Portugal. O seu nome é ainda hoje recordado pelos apaixonados do hóquei como um cavalheiro dentro e fora dos rinques, quer pela sua forma de ser, quer pela sua forma de jogar. Falamos de Carlos Realista, defesa/médio de uma classe ímpar que nasceu para o hóquei em patins na "margem sul", isto é, no Barreiro, ao serviço da lendária CUF. 

Veio ao Mundo a 2 de maio de 1963, em Alhos Vedros, concelho da Moita, mas seria no seio da CUF que iniciou a sua ligação ao desporto. Primeiro no atletismo, depois no futebol, até chegar ao hóquei em patins, pela mão de uma outra grande figura desta modalidade, Leonel Fernandes, que treinava as escolas do emblema do Barreiro. Realista teria nessa altura uns 8 ou 9 anos. O hóquei em patins entranhou-se de imediato no jovem Carlos, que mais tarde dá o salto para Lisboa, onde começou por representar o Clube Atlético de Campo de Ourique (CACO), emblema que na sua história formou alguns dos melhores hoquistas lusos de todos os tempos, casos de Vaz Guedes, Carlos Bernardino, Vasco Velez, Luís Nunes, e, claro, Carlos Realista, que no início da década de 80 chega a um dos maiores clubes nacionais, o Sporting. No bolso trazia já dois títulos de campeão nacional de juniores conquistados ao serviço do CACO.

Sporting que poucos anos antes (1977) tinha encantado a Europa do hóquei através do seu "dream team" que venceu a primeira Taça dos Campeões Europeus (TCE) para Portugal. A fasquia para Realista estava pois alta, já que em Alvalade partilhou o balneário com lendas como Chana, Ramalhete, Vítor Rosado, Sobrinho, ou José Rosado. E no Sporting foi treinado por aquele que é considerado como o maior hoquista do Mundo de todos os tempos, António Livramento, que precisamente em 77 havia terminado a sua brilhante carreira de atleta. Mas Realista não se assustou, pelo contrário, mostrou todo o seu talento e foi pedra fundamental para uma sequência de êxitos nos quatro anos seguintes em que vestiu a camisola do Sporting. E logo na primeira temporada venceu o campeonato nacional da 1.ª Divisão e a Taça dos Vencedores das Taças (TVT), este último o seu primeiro troféu continental que haveria de fazer dele até aos dias de hoje um jogador especial. Mas já lá vamos. 

Em 83/84 vence a Taça de Portugal, ao que se seguiu uma nova vitória internacional, desta feita a Taça CERS, após um duplo triunfo na final sobre os italianos do Novara. Na sua última temporada de leão ao peito Realista venceria uma nova TVT, agora ante os alemães do Walsum. Entretanto, a norte de Portugal estava a consolidar-se outra equipa de sonho, outro conjunto que marcou a história do hóquei português e planetário. Era o FC Porto que se preparava para dominar o hóquei nacional e conquistar a Europa em duas ocasiões. E a primeira passagem pela Cidade Invicta não podia ter corrido melhor para Realista, já que nas duas primeiras temporadas de azul e branco (85/86 e 86/87) sagra-se bi-campeão nacional e bi-campeão da Taça de Portugal. A par do domínio supremo a nível nacional venceria a primeira de duas TCE ao serviço dos portistas. Logo na sua primeira época ajuda o Porto a derrotar os italianos do Novara. 

Realista era já por esta altura a par de Vítor Hugo, Vítor Bruno, Franklim Pais, António Alves, ou Tó Neves (todos eles do FC Porto) um dos maiores craques do hóquei luso e mundial. Titular indiscutível do FC Porto e da seleção nacional o jogador nascido em Alhos Vedros tem em 87/88 a sua única aventura no hóquei internacional, isto é, a única vez que jogou no estrangeiro. E fê-lo logo num dos maiores e mais laureados emblemas do planeta, o Barcelona. Realista fez por isso história no clube da Catalunha, já que se tornaria no primeiro estrangeiro a atuar pela equipa de hóquei em patins do Barça. Porém, não conseguiu qualquer título na passagem por Espanha. Regressaria a Portugal e ao Porto, onde nos cinco anos seguintes continuou a escrever história, vencendo mais três títulos de campeão nacional (88/89, 89/90 e 90/91), uma Taça de Portugal (88/89), e acima de tudo, a segunda TCE, conquistada em 89/90 diante do Noia. Já na casa dos 30's mas ainda com muito hóquei nos patins viaja em 93/94 para o Minho, onde defendeu por três temporadas as cores de outro grande da modalidade, o Óquei de Barcelos. E quem pensava que Carlos Realista iria para Barcelos descansar enganou-se redondamente, pois foi peça fundamental na conquista do título de campeão nacional de 92/93 e na Taça CERS de 94/95. E voltando atrás nesta breve biografia, quando aludimos a Realista como um jogador especial, porque com este último triunfo europeu esta figura passou a ser o primeiro - e único até à data - jogador português que conquistou troféus internacionais por três clubes diferentes. 

Realista pendurou os patins ao serviço do Gulpilhares. Como já referimos ele fez parte de uma das mais icónicas gerações do hóquei português, a geração liderada pelo mago Vítor Hugo. Realista esteve presente em 5 Campeonatos do Mundo (84, 86, 88, 89, e 91) e outros tantos Campeonatos da Europa (81, 83, 85, 87, e 90), tendo conquistado um título mundial (em 1991, no Porto), e um cetro europeu (em 87, em Oviedo). Vestiu a camisola da seleção nacional em 180 ocasiões. A brilhante carreira de Carlos Realista foi reconhecida pelo Estado português, que lhe atribuiu as medalhas de Mérito e de Honra.

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